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A escola mais linda do mundo

 

Sobre a Escola da Ponte, Rubem Alves escreveu: encontrei “a escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir”. Pois foi exatamente assim que me senti quando visitei a Arapoti.

 

Estacionei meu carro e um portão discreto me levou a um bonito jardim, onde logo avistei a famosa casinha amarela, ícone da Arapoti. Reconheci a casinha das fotos que a Denise me mostrava do terreno onde ela sonhava construir uma escola. Essa lembrança me emocionou.

Foto com flores amarelas.png

Logo a Dê apareceu, me recebeu com o carinho e a alegria de sempre e me levou para conhecer cada canto daquela escola-sonho que agora existia de verdade e era mais linda do que eu jamais poderia ter imaginado.

Ao percorrer os caminhos que cortavam o enorme quintal, me pensei criança ali, comendo fruta no pé, brincando com as galinhas, alimentando os peixes, observando os jabutis, correndo na grama, brincando na lama depois da chuva, sentindo o cheiro da lavanda no canteiro...

 

Passamos pela sala de jogos, por um ateliê de artes e pelas salas de aula – todas amplas, arejadas, iluminadas, deliciosas. Me chamou a atenção o fato de cada uma ter o seu próprio banheiro, algo que sempre desejei enquanto professora, uma vez que o controle dos esfíncteres e o autocuidado são conteúdos essenciais na EI.

 

As salas de aula estavam vazias, pois as crianças brincavam no espaço externo. Denise aproveitou para me mostrar alguns registros expostos nas paredes e me contar sobre o trabalho desenvolvido por cada grupo. Percebi um profundo respeito pelos caminhos trilhados pelas crianças, suas hipóteses, suas descobertas, seus desejos. Uma pedagogia que preza pelo simples, pelo afeto, pelo tempo alargado, pelo pensar e viver junto. Uma pedagogia que dispensa as palavras difíceis e se apoia na vida cotidiana para instigar o pensamento dos alunos.

 

Meu sorriso não coube no rosto quando vi que em cada sala havia um contexto permanente de leitura, aconchegante, convidativo, com livros cuidadosamente selecionados. Dê me contou que a escola tem um compromisso com a formação de leitores literários e investe tanto em manter um acervo atualizado quanto em proporcionar boas experiências de mediação de leitura para as crianças.

 

Na cozinha, ouvi maravilhada a Dê contar como a alimentação é um tema precioso para a escola, que envolve toda a comunidade – as crianças, as famílias, os educadores e os demais funcionários, sob a orientação de uma nutricionista que defende a comida de verdade, caseira, feita com ingredientes frescos. O cultivo, a colheita, o preparo e a degustação do alimento são etapas vividas e valorizadas por crianças e adultos.

 

Outro espaço que me chamou a atenção foi um grande quiosque de madeira, onde, quando entrei, estava acontecendo uma aula de música e, quando saí, várias crianças brincavam entretidas com blocos de construção, bonecos, animais e outros brinquedos. Dê me explicou que eram as crianças que passavam o dia todo na escola. Elas estavam descansando após o almoço. Fiquei impressionada como conversavam baixinho, envolvidas nas suas invenções, tranquilas...

 

Foi então que me dei conta de que nas várias horas que passei na escola não ouvi um só grito. Não vi crianças brigando ou adultos correndo para lá e para cá tentando dar conta de mil coisas ao mesmo tempo. Todos me pareciam calmos, inteiros, felizes por estarem ali. Não tinham pressa, estavam presentes.

 

Finalizei minha visita na sala da Denise, que fica bem no meio da escola e tem uma grande porta de vidro, sempre aberta. Sentamos em um sofá macio e conversamos sobre educação por um bom tempo. No meio da conversa, um menino entrou e pulou no colo da Dê, que o abraçou carinhosamente. Os dois conversaram por alguns minutos e percebi que era a continuação de um assunto antigo.

 

Me despedi olhando nos olhos da minha amiga e dizendo a ela: “Você construiu a escola mais linda do mundo, em todos os sentidos. As pessoas precisam conhecer esse lugar. Professores das redes pública e privada precisam vir aqui. Estou indo embora leve, feliz, esperançosa. Obrigada!”

Silvia Zerbini

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