"As crianças não chegam a este mundo
para brincar de viver;
para elas, brincar é viver."
Maria Amélia Pinho Pereira
A Escola Arapoti abriu suas portas há dez anos, quando a sua idealizadora Denise Martins decidiu, a partir de estudos, dar forma às suas inspirações e compartilhar sua experiência em Educação para oferecer à comunidade de Santana de Parnaíba, uma proposta educativa coerente com os ideais de uma sociedade mais justa e sustentável. Igualmente, alimentava o sonho de construir, na natureza viva e exuberante, um espaço coletivo, acolhedor, repleto de possibilidades criativas de investigação, aprendizado e desenvolvimento humano, e que fosse, ao mesmo tempo, fomentador de cultura, da boa convivência e especialmente, de profundo respeito à infância.
Como Escola de Educação Infantil, cresceu ano a ano, criando identidade e laços fortes com a comunidade em constante formação, consolidando assim, em uma estrutura dinâmica, dialógica e participativa, a realização de um projeto pedagógico fundamentado nas bases da teoria sociointeracionista pressupondo, portanto, que a produção de saberes, de conhecimento e de cultura são sempre construções sociais, frutos de interação entre os sujeitos.
Um projeto de educação não resiste sem amor, sem alegria, sem a paixão de viver e conhecer o mundo, como já dizia a educadora Madalena Freire. A Arapoti reconhece e celebra uma extensa rede de inspirações em instituições de educação, arte e cultura com quem, desde sua fundação, partilha reflexões e desafios da educação contemporânea.
Do mesmo modo, faz menção aos educadores que lhe são referência nos afetos e fundamentos, em especial a Maria Amélia Pinho Pereira (Pel), a educadora musical Lydia Hortélio, Paulo Freire, Therezita Soares Pagani, Gandy Piorsky, Emília Ferreiro, Vygotsky entre outros. Também se inspira em algumas escolas de vanguarda sediadas na Europa e América Latina.
Vale ressaltar a profunda influência de nosso poeta matogrossense Manoel de Barros, que entre tantos outros, semeia com generosidade a poesia, a beleza e a alegria na concepção de educação e no projeto educacional da Escola Arapoti.
Reconhecer a existência de uma cultura de infância, que entende a criança como cidadã, com direito de ser valorizada e respeitada em sua singularidade, em seus próprios tempos de crescimento e desenvolvimento. Identificar as potências da criança para que, em diálogo com experiências de sentido, realize aprendizagens em troca contínua com o contexto cultural e social onde vive, produzindo e difundindo conhecimento e cultura. Reconhecer o valor da infância como patrimônio que se constitui em pluralidade, considerando a diversidade racial, social, cultural e econômica em diferentes tempos e territórios.
Escola Arapoti ancora suas bases epistemológicas na premissa que orienta a Educação Básica em nosso país, demarcando a infância não somente como uma etapa do desenvolvimento, mas como um lugar social e simbólico, construído nas (e pelas) diferentes culturas.
Para nós, a criança é alguém que já é: um ser potente, criativo, sujeito de direitos e de linguagens, que interagindo nos múltiplos contextos dos quais faz parte, desenvolve capacidades e sentidos de pertencimento.
O brincar, sentir, elaborar pensamentos, imaginar, desejar, são modos de se perceber e perceber o mundo, refletindo e simbolizando as marcas de subjetividade constitutivas da identidade em formação. O brincar se destaca como a experiência fundamental na vida da criança. É nessa linguagem livre e autêntica, que se torna capaz de expressar a natureza que a constitui nas formas de assimilar, transformar e produzir cultura. Seu valor para o desenvolvimento humano é inestimável, seja pelas elaborações simbólicas do mundo percebido, pelos gestos da cultura incorporados nos diferentes papéis, pelas múltiplas linguagens que se aprimoram no dizer de si e dos achados e descobertas que faz, especialmente, pelo prazer de conhecer, estar junto e conviver.
Aqui também reafirmamos a ideia de que o desejo de brincar, entendido como ludicidade, não morre com o término da infância, mas aprimora suas manifestações na adolescência, juventude e também na vida adulta, seja no enlaçamento dos afetos, na convivência fraterna, na alegria dos jogos, na apreciação e produção das linguagens da arte, do teatro e da ciência, no engajamento da pesquisa acadêmica e do mundo do trabalho.
Nessa mirada, a Arapoti se abre para o acolhimento à criança, apoiando-a em suas vivências e processos de desenvolvimento. É sob essa perspectiva que nos dedicamos a observar, refletir, documentar e qualificar os ambientes de aprendizagem, valorizando as interações com os contextos, as pessoas, os tempos e as materialidades.
Assim, a proposição de uma educação integral é o que articula nosso Projeto Político Pedagógico, e o faz por meio de práticas inter e transdisciplinares, que visam o desenvolvimento dos aspectos cognitivos, emocionais, sociais, físicos, estéticos e culturais tendo por base a indissociação entre o cuidar e o educar.
O projeto educativo da Arapoti se consolida a partir dos seguintes valores: empatia, cooperação, respeito e proteção à natureza, convivência na diversidade, interesse pelas culturas do mundo. Destacamos a cultura brasileira em especial, por instaurar nesse horizonte, uma educação para as relações étnico-raciais. Tais valores perpassam todas as nossas ações pedagógicas.
Exercendo com responsabilidade seu papel de escola, a Arapoti segue sua vocação no desenvolvimento e aprofundamento da concepção de cultura de infância, sempre em diálogo com a comunidade e em consonância às reflexões e movimentos históricos que promovem a evolução das políticas educacionais, reconhecendo a Educação Infantil como um segmento da maior importância, promotor da aprendizagem e parte integrante da Educação Básica.
Neste sentido, é consoante também com a proposição da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), no que tange as diretrizes para o desenvolvimento de competências gerais a serem desenvolvidas ao longo da escolaridade, unificando assim a Educação infantil ao Ensino Fundamental e ao Ensino Médio. São elas: a valorização do conhecimento, o desenvolvimento do pensamento científico e criativo, o senso estético e o repertório cultural, a comunicação, a cultura digital, o desenvolvimento da autonomia, a empatia e a cooperação, o autoconhecimento e autocuidado, a argumentação e a autogestão.
Desde a Educação infantil, incluindo já o 1º ano do Ensino Fundamental em 2024, essa educação que integra as ciências, as artes e as experiências vividas no cotidiano da escola está no coração pulsante de nosso projeto pedagógico.
No ciclo da Educação infantil, os direitos da aprendizagem são garantidos na fusão dos atos de educar e cuidar e se ramificam em objetivos da aprendizagem e
desenvolvimento integrados em diferentes campos de experiência que contextualizam os repertórios e saberes das crianças sobre o mundo ao seu redor, contemplando as relações afetivas, o conhecimento de si e do outro, os objetos, espaços e temporalidades, as linguagens narrativas, a literatura, a música, o corpo e a cultura.
Assim, o planejamento cuidadoso da jornada escolar entrelaça o interagir, o aprender e o brincar, sustentando a importância da construção de experiências e bens culturais como direitos:
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à percepção de si e do outro na convivência com o diferente, com outros grupos etários, com seus pares, com toda a comunidade escolar, nutrindo nessa interação, sua identidade social e cultural.
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ao brincar em parcerias e formas diversas que exploram, corporal e simbolicamente, um amplo repertório de movimentos, gestos, olhares e sentidos, expresso nos modos de ocupação, uso do espaço e do tempo, com oportunidades de observações, manipulações de objetos, investigação do entorno, levantamento de hipóteses, consultas às fontes diversas de informação e construção de narrativas;
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ao exercício da imaginação e da criatividade, o engajamento da emoção;
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à participação ativa na organização das atividades do cotidiano institucional, incluindo, desde a cooperação para o bem coletivo às possibilidades de escolha de brincadeiras e projetos de pesquisa;
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a expressão de ideias e sentimentos em diferentes linguagens (oral, sonora, gráfica, gestual, corporal: na dança, no teatro, no jogo, na modelagem, entre outros);
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a exploração e apreciação do patrimônio da humanidade, nas artes, nas ciências, na literatura em seus diversos gêneros literários.
Concepção de Currículo
Acreditamos que a função da escola é propiciar o desenvolvimento da cidadania e promover acesso ao conhecimento acumulado pela humanidade ao longo do tempo, tornando o ato de conhecer um ato criativo e de amor pelo mundo, pelas crianças e pela possibilidade de transformação que carregam em si. Nosso currículo se constitui pelas experiências, valores e reflexões atravessadas e sustentadas pela pergunta: que sociedade queremos construir? O projeto de uma educação integral, global, ética e estética nos ajuda a responder ao compromisso de assumir a potência destas gerações de forma responsável e sensível aos saberes que constroem valores e conhecimentos capazes de mirar o horizonte como desejo de futuro.
A defesa e o acolhimento ao diverso nos processos de ser, aprender e produzir conhecimento é fundante na Arapoti. Por isso, no exercício da escuta sensível, nosso projeto inclui os repertórios e indagações individuais, coletivas e culturais, expandindo os caminhos de aprendizagem das crianças.
Da Educação Infantil para o Ensino Fundamental
A transição da Educação Infantil para os anos iniciais do Ensino Fundamental nos coloca o desafio da escuta ativa e sensível de todos os envolvidos, crianças, professores e famílias quanto às expectativas para a nova etapa, assim como o de garantir a linearidade do projeto pedagógico, sem rupturas com a cultura da infância, de modo a sustentar o engajamento, a autonomia e a confiança dos estudantes em seus processos de aprendizagem e no planejamento de novas jornadas.
Se no Ensino Fundamental os conteúdos, as competências e as habilidades já se apresentam interrelacionadas em áreas do conhecimento e componentes curriculares (BNCC), o apoio à transição segura e autônoma das crianças entre os ciclos demanda abordagens que integram todas elas em contextos de sentido, considerando a coerência com a concepção de infância, com o projeto pedagógico e consequentemente, o entendimento de como as crianças aprendem.
A ludicidade, a curiosidade, o espírito investigativo e o letramento em diferentes linguagens são constitutivos dos processos de construção do conhecimento e se alinham em propostas que propiciam relações de sentido entre os diferentes objetos de pesquisa, contextos e realidades do mundo. Entende-se que nesse território, a aprendizagem não acontece de modo externo, mas é elaborada entre a escuta e a ação, na experiência, nos deslocamentos e pelo diálogo que se estabelece entre os sujeitos, suas histórias e seus repertórios em interação.
Ciclo de Alfabetização
A importância da continuidade das aprendizagens aqui se revela na organicidade do planejamento curricular que entende esta fase de transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental como um tempo muito especial, o ciclo de alfabetização, e ainda mais, revela-se na análise e apreciação cuidadosa do percurso vivido e documentado de cada criança.
Como compromisso da continuidade, o ciclo da alfabetização, promove a integração das práticas com os objetivos de ensino e de aprendizagem, considerando saberes prévios, o desenvolvimento de diferentes linguagens expressivas ( a leitura, a escrita, os números, o desenho, a pintura, a música, a dança, o movimento, os jogos simbólicos), na elaboração de um planejamento que respeitando e estimulando as potencialidades das crianças, leve-as, com confiança, ao reconhecimento desta potência em si.
O Ensino Fundamental dá prosseguimento aos processos de investigação, desenvolvimento de linguagens e saberes iniciados na etapa anterior, em novas formalizações do conhecimento, sem perder o vigor da busca. Propõe desafios que aprofundem a curiosidade, a imaginação e a comunicação, potencializadores do gosto pelo estudo, pela observação atenta que faz avançar a pesquisa e a compreensão dos fenômenos da vida, das situações-problemas, atitudes que constituem o vigor na cultura de estudante.
Nesta perspectiva, formar leitores e escritores, bem consolidar o processo de alfabetização é o maior dos desafios e compromissos da Escola Básica.
Assim, a Arapoti se propõe, fundamentalmente, a inserir as crianças no universo das culturas do escrito e, no Ensino Fundamental, aprofundar a imersão nos textos e contextos da língua e seus códigos; tomar gradativamente a linguagem como objeto de reflexão, e saber quais desafios as crianças enfrentam diante das questões que ela suscita; apoiar a construção de hipóteses, a comunicação expressiva, a aprendizagem que ela possibilita de outros conteúdos e especialmente, experienciar a fruição e prazer; identificar os tipos de textos que existem, suas composições, funções, os gêneros textuais que circulam em nossa sociedade, e que melhor se ajustam à situação comunicativa; fazer da linguagem o recurso e repertório que dá sentido ao discurso.
Falar, ler e escrever em contextos reais de uso, como meio de construção de identidade, participação e pertencimento à comunidade da qual fazemos parte, dentro e fora da escola; criar envolvimento afetivo, lúdico e imaginário com as leituras literárias, valorizando o desenvolvimento destas experiências estéticas e humanizadoras a partir dos textos.
Ouvir histórias, recitar parlendas, poemas, escrever bilhetes, listas de nomes, de brincadeiras, enviar convites, preparar um sarau, uma festa, cantar canções, registrar as descobertas nas pesquisas, são experiências através das quais as crianças, mobilizadas pelos seus professores, se engajam e avançam, colocando em jogo tudo o que sabem a respeito de si no mundo da escrita.
O projeto educativo da Escola Arapoti tem a ALIMENTAÇÃO como um de seus pilares. Ela se inicia no individual, se ancora no coletivo e se amplia para o socioambiental.
A produção de um cardápio diverso e nutritivo, elaborado pela nossa nutricionista e feito pelas cozinheiras da escola é o princípio desse olhar. As aulas de culinária e o plantio em nossa horta estabelecem uma relação mais próxima da criança com os alimentos e compõem os caminhos para a formação do paladar.
Para além de nutrir o corpo, entendemos as refeições como um momento de cultivarmos relações, nutrir afetos, perceber o outro e ampliar a sensação de pertencimento. A importância de estar à mesa se estabelece na mesa montada de forma colaborativa com as crianças, nas conversas despretensiosas dos professores e alunos e na fluidez do tempo reservado para esse momento.
Por fim, a compreensão de que a preocupação com a origem dos alimentos se dá não só pela qualidade nutricional e os benefícios para a saúde da criança, mas também se amplia para a saúde ambiental, econômica e social de quem produz esses alimentos, reforçam nossa responsabilidade em adquirir cada vez mais alimentos de origem orgânica e não transgênica e mais próximos do produtor.
Localizada a sete minutos de Alphaville, ao lado do condomínio Vila Velha, a Escola possui uma privilegiada área de 6.000 m2 de natureza.
Em meio ao extenso jardim e árvores centenárias, há um chalé que nasceu como casa e hoje é nossa Biblioteca central. Sua arquitetura nos remete ao fantástico mundo dos contos de fadas, propiciando belos enredos, diferentes brincadeiras e infinitas possibilidades de aprendizagem. As salas-referência são organizadas a partir de contextos que convidam à interação e investigação.
Outros espaços enriquecem o projeto pedagógico, como o imenso pomar, um tanque de areia de 13 metros, um de barro para escavações arqueológicas, parede de azulejo para pintura, diversos canteiros para plantio, viveiros para galinhas, coelhos e jabutis, e uma grande oca destinada aos encontros de formação, apresentações culturais, reuniões e festejos comunitários.
Com o início do Ensino Fundamental em 2024, já demos partida às obras de ampliação das salas-referência e do refeitório, incluindo também nova sala de professores, de descanso para os funcionários, um belíssimo atelier integrado ao pomar, uma quadra coberta com arquibancada, preservando nestes espaços, a vista ao pôr do sol.
Toda essa arquitetura alicerça a concepção e o clima de um ambiente de aprendizagem surpreendente, vivo, em harmonia com a natureza, fomentador da curiosidade, da pesquisa e da convivência.